"Quem és tu que me lês? Sou eu o teu segredo ou és tu o meu?" (Clarice Lispector)

22 março, 2011

21 março, 2011

Ele e Ela, novos conceitos de relações...



     Fiquei muito feliz no último final de semana. Penso que eu nunca tenha ficado tão satisfeita ao saber de um encontro político como o de Obama e Dilma. Ele, o representante do mundo, um negro. Ela, a presidenta do maior país sulamericano, uma mulher. Talvez as questões discutidas não tragam as mudanças desejadas. Pode ser que as relações internacionais entre USA e Brasil não sejam as mais favoráveis. Mas a representação da mudança de valores e direitos humanos diante da política mundial certamente foi a maior conquista comemorada nessa visita do presidente americano ao nosso país.
     Tomara que nos próximos dias tenhamos outras boas notícias sobre o panorama mundial. Espero que o Japão consiga superar seu momento de tragédia e que a paz possa prevalecer diante dos conflitos no Líbano. E é assim que inicio a semana, com otimismo e desejando boas energias a todos!

16 março, 2011

E quando a esperança acaba, o que resta?



     O mundo tem acompanhado a triste história da tragédia no Japão. A cada momento em que se liga a tv, vê-se uma notícia mais alarmante que a outra. São incrédulos os números de pessoas desabrigadas e entristecedora a expectativa de corpos ainda não encontrados. E se tudo isso não bastasse, as perspectivas de melhoras são poucas, pois a iminência de novos terremotos persiste o tempo todo.
     Fico aqui, em minha distante e confortável vida, imaginando como será a dor das pessoas que lá estão. Os japoneses são povos de uma cultura requintada, poder aquisitivo alto e acostumados a uma tecnologia de ponta. De repente, deparam-se em situação de desespero. Não há comida, não há água, não há possibilidade de viver em suas casas. Parentes e amigos estão desaparecidos ou mortos.  No momento atual,  talvez apenas os valores espirituais possam amenizar o contexto de pouca confiança.

     Diante dessa história, pergunto-me sobre o que resta quando não há mais esperança? Como ficam os sentimentos de um povo desacreditado diante de uma catástrofe natural, onde se percebe a fragilidade humana perante a força da natureza? E pensando um pouco além, como se sentem as pessoas diante da morte? Como se posicionam os homens ao perderem uma guerra? O que fazer diante de um amor que acaba? Como ficam os pais quando vêem um filho vencido por uma doença? Como reage uma pessoa que perde suas funções mentais por um AVC? O que se faz quando se não se pode mais esperar?
     E  a resposta, penso eu, é que se pode continuar. E se continua sem ilusões, pensando e lutando por sobrevivência. E talvez a vida possa ser até mais leve, sem as frustrantes expectativas do esperar. Então, quando a esperança acaba, pega-se o resto e se constrói um novo mundo. Uma nova vida, adaptada ao que se tem. E a existência vai se renovando...

14 março, 2011

Big Brother Brasil




(Luiz Fernando Veríssimo)
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A  décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que  recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

13 março, 2011

Por mais que uma noite...

"Tomas dizia consigo mesmo: deitar-se com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não apenas diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (esse desejo diz respeito a uma só mulher)". Milan Kundera


Na "mulher interessante", a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: "Ser bonita não interessa. Seja interessante!" Nelson Rodrigues

Milan Kundera e Nelson Rodrigues são dois escritores que admiro muito. Falam sobre o amor e as relações contemporâneas de modo conciso e real. Trazem em suas reflexões uma genialidade sobreposta de certa dureza. Em alguns momentos, percebo um pouco da filosofia freudiana em seus textos. Mas sempre encerram seus pensamentos ressaltando os nobres valores que devem sustentar as relações conjuguais.


Os dois trechos descritos acima me fazem repensar na vivência real das relações. Eu me pergunto como ser a mulher ideal para, antes de ser apenas desejada, ser a mulher desejada ao sono compartilhado? E o que é ser interessante? Como chamar a atenção de quem se acha interessante? Como não ser apenas uma mulher sensual e como ser interessante sem deixar de ser sensual? Às vezes me perco nesses devaneios. E talvez me perca de mim mesma, sem entender o que realmente penso sobre tudo isso. 
Há momentos em que não desejo ser interessante, mas há quem diga que sou. Noutra hora, não intenciono a languidez e sensualidade, mas há quem me perceba assim. E contraditório ao meu desejo, quando quero ser atraente e interessante, desejável ao sono compartilhado sem ser indesejável aos prazeres sexuais, não sou. Onde está o segredo? Em que lugar encontro a fórmula que transforma a atração efêmera em atração não breve? Ou não há fórmula?
Kundera e Rodrigues apenas descreveram como as relações são. Mas não explicaram como elas chegam a acontecer. Conquistar uma pessoa para uma noite é fácil. Conquistá-la para muitas noites, eis o que tem me parecido quase impossível. Se alguém souber como fazê-lo, explique-me!