"Quem és tu que me lês? Sou eu o teu segredo ou és tu o meu?" (Clarice Lispector)

16 março, 2011

E quando a esperança acaba, o que resta?



     O mundo tem acompanhado a triste história da tragédia no Japão. A cada momento em que se liga a tv, vê-se uma notícia mais alarmante que a outra. São incrédulos os números de pessoas desabrigadas e entristecedora a expectativa de corpos ainda não encontrados. E se tudo isso não bastasse, as perspectivas de melhoras são poucas, pois a iminência de novos terremotos persiste o tempo todo.
     Fico aqui, em minha distante e confortável vida, imaginando como será a dor das pessoas que lá estão. Os japoneses são povos de uma cultura requintada, poder aquisitivo alto e acostumados a uma tecnologia de ponta. De repente, deparam-se em situação de desespero. Não há comida, não há água, não há possibilidade de viver em suas casas. Parentes e amigos estão desaparecidos ou mortos.  No momento atual,  talvez apenas os valores espirituais possam amenizar o contexto de pouca confiança.

     Diante dessa história, pergunto-me sobre o que resta quando não há mais esperança? Como ficam os sentimentos de um povo desacreditado diante de uma catástrofe natural, onde se percebe a fragilidade humana perante a força da natureza? E pensando um pouco além, como se sentem as pessoas diante da morte? Como se posicionam os homens ao perderem uma guerra? O que fazer diante de um amor que acaba? Como ficam os pais quando vêem um filho vencido por uma doença? Como reage uma pessoa que perde suas funções mentais por um AVC? O que se faz quando se não se pode mais esperar?
     E  a resposta, penso eu, é que se pode continuar. E se continua sem ilusões, pensando e lutando por sobrevivência. E talvez a vida possa ser até mais leve, sem as frustrantes expectativas do esperar. Então, quando a esperança acaba, pega-se o resto e se constrói um novo mundo. Uma nova vida, adaptada ao que se tem. E a existência vai se renovando...

Um comentário:

  1. Do bagaço se faz humus p/ fertilizar a vida... aí reside o mistério da existência: ciclos de construção e destroços - apesar da dor (e porcausa dela).
    "... é que sempre se pode continuar."

    Abraço, ótimo texto; parabéns!

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