"Quem és tu que me lês? Sou eu o teu segredo ou és tu o meu?" (Clarice Lispector)

13 março, 2011

Por mais que uma noite...

"Tomas dizia consigo mesmo: deitar-se com uma mulher e dormir com ela, eis duas paixões não apenas diferentes mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (esse desejo diz respeito a uma só mulher)". Milan Kundera


Na "mulher interessante", a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: "Ser bonita não interessa. Seja interessante!" Nelson Rodrigues

Milan Kundera e Nelson Rodrigues são dois escritores que admiro muito. Falam sobre o amor e as relações contemporâneas de modo conciso e real. Trazem em suas reflexões uma genialidade sobreposta de certa dureza. Em alguns momentos, percebo um pouco da filosofia freudiana em seus textos. Mas sempre encerram seus pensamentos ressaltando os nobres valores que devem sustentar as relações conjuguais.


Os dois trechos descritos acima me fazem repensar na vivência real das relações. Eu me pergunto como ser a mulher ideal para, antes de ser apenas desejada, ser a mulher desejada ao sono compartilhado? E o que é ser interessante? Como chamar a atenção de quem se acha interessante? Como não ser apenas uma mulher sensual e como ser interessante sem deixar de ser sensual? Às vezes me perco nesses devaneios. E talvez me perca de mim mesma, sem entender o que realmente penso sobre tudo isso. 
Há momentos em que não desejo ser interessante, mas há quem diga que sou. Noutra hora, não intenciono a languidez e sensualidade, mas há quem me perceba assim. E contraditório ao meu desejo, quando quero ser atraente e interessante, desejável ao sono compartilhado sem ser indesejável aos prazeres sexuais, não sou. Onde está o segredo? Em que lugar encontro a fórmula que transforma a atração efêmera em atração não breve? Ou não há fórmula?
Kundera e Rodrigues apenas descreveram como as relações são. Mas não explicaram como elas chegam a acontecer. Conquistar uma pessoa para uma noite é fácil. Conquistá-la para muitas noites, eis o que tem me parecido quase impossível. Se alguém souber como fazê-lo, explique-me!

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