"Quem és tu que me lês? Sou eu o teu segredo ou és tu o meu?" (Clarice Lispector)

05 abril, 2009

Motivo


O que seria do escritor se não existisse o leitor, ou vice-versa?

Ler não é um hábito; ler não é uma obrigação; ler é uma necessidade.

E aqui falo do que é nessário a cada pessoa. Tem gente que lê o jornal

todos os dias à procura de emprego. Tem gente que lê os scraps do orkut

à procura do recado de alguém. Tem gente que lê poesia à procura de

alimento para a alma.

É mentira dizer que as pessoas não lêem mais. Elas lêem sim. O que talvez

seja diferente dessa frase nostalgica é que as nessecidades das pessoas

tenham mudado. Portanto, se quiser convenser alguém de ler alguma coisa,

crie nela, antes, a necessidade de ler. E então, conquistará um leitor.

Inicio este blog com um texto de Cecília Meireles.


Motivo


Eu canto porque o instante existe

E minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

Não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

No vento.

Se desmorono ou se edifico,

Se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.


Cecília Meireles

Um comentário:

  1. Não poderia ter escolhido melhor poema para iniciar este blog!!
    Adoro textos dela!!Alias me encanta compartilhar de releituras dos mais diversos escritores!!
    Poxa ,bacana mesmo tua ideia!
    Bjo grande..e deixo aqui um trecho que amo de Cecília ...
    (...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

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