"Quem és tu que me lês? Sou eu o teu segredo ou és tu o meu?" (Clarice Lispector)

14 abril, 2009

Vadiar


Hoje eu queria poder acordar de manhã e não ter que fazer nada. Poder pegar uma caneca de leite com café e me sentar na varanda da casa da fazenda, cruzar as mãos sobre os joelhos e ficar olhando para a quietude daquele lugar. Hoje tô desanimada, sem vontade de nenhuma responsabilidade. Eu queria poder ficar quieta, curtindo o vento, o cheiro do pão-de-queijo que minha mãe faz. Hoje estou triste e para me consolar, escolhi esse poema que adoro.




Vadiar


Adoraria vadiar para o resto da vida,
escrever poemas
e passar tardes comendo pêssego – branco e duro.

E se fosse de calcinha,
ao lado de um alegre homem de cueca,
passaria os dias rindo,
até perder a respiração,
e só me permitiria chorar
se fosse de pura emoção.

E, sempre que chovesse,
me sentaria na varanda
para ouvir a chuva me aconselhar.

Sem pressa, réplica ou apartes,
de posse da sabedoria
que o momento é de me calar.

De deixar o pensamento vagar
sem buscar resposta,
dar paz a mente,
ainda que a ventania bata à porta.

Tão responsável quanto um bicho,
guiado pelo instinto
e alheio a qualquer moral.


Mari Marinaro

Nenhum comentário:

Postar um comentário